Nós
acompanhamo-la por aqueles caminhos nestes momentos de oração e dizemos-lhe com
as palavras que lemos na primeira Leitura da Missa: Entoa cânticos de
louvor, filha de Sião, alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém
[...]. O Senhor, que é o rei de Israel, está no meio de ti [...]. Ele se
regozijará em ti com júbilo eterno4.
É
fácil imaginar a imensa alegria que dominava a nossa Mãe desde o dia da
Anunciação, e o grande desejo que teria de comunicá-la. Por outro lado, o anjo
dissera-lhe: Eis que Isabel, tua prima, também concebeu um filho...,
e, segundo esse testemunho expresso, tratava-se de uma concepção prodigiosa,
relacionada de algum modo com o Messias que estava para vir.
Nossa
Senhora entrou em casa de Zacarias e saudou sua prima. E aconteceu que,
quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou no seu seio, e Isabel
ficou repleta do Espírito Santo. Toda a casa se transformou pela presença
de Jesus e de Maria. A saudação da Virgem “foi eficaz porquanto cumulou Isabel
do Espírito Santo. Com as suas palavras, mediante a profecia, Maria fez brotar
na sua prima, como de uma fonte, um rio de dons divinos [...]. Com efeito, onde
quer que esteja a cheia de graça, tudo fica repleto de alegria”. É
um prodígio que Jesus realiza por meio de Maria, d’Aquela que esteve associada desde
os começos à Redenção e à alegria que Cristo traz ao mundo.
A
festa de hoje apresenta-nos uma faceta da vida interior de Maria: a sua atitude
de serviço humilde e de amor desinteressado pelos que se encontram em
necessidade, uma atitude que se traduz numa maravilhosa sementeira de alegria.
Maria convida-nos sempre à entrega pronta, alegre e simples aos outros. Mas
isto só será possível se nos mantivermos muito unidos ao Senhor, trazendo-o
dentro de nós pelo estado de graça e pelo espírito de oração: “A união com
Deus, a vida sobrenatural, comporta sempre a prática atraente das virtudes
humanas: Maria leva a alegria ao lar de sua prima, porque «leva» Cristo”. Nós
«levamos» Cristo conosco, e com Ele a alegria, aos lugares onde vamos..., ao
trabalho, aos vizinhos, a um doente...? Somos habitualmente causa de alegria
para os outros?
À
CHEGADA DE NOSSA SENHORA,
Isabel, repleta do Espírito Santo, proclama em voz alta: Bendita és tu
entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! De onde a mim esta dita,
que venha a Mãe do meu Senhor visitar-me? Porque assim que a voz da tua
saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre.
Isabel
não se limita a chamá-la bendita, mas relaciona o seu louvor com o
fruto do ventre de Maria, que é bendito pelos séculos. Maria e
Jesus estarão sempre juntos. Os momentos mais prodigiosos da vida de Jesus
transcorrerão – como neste caso – em íntima união com a sua Mãe, Medianeira de
todas as graças: “Esta união entre Mãe e Filho na obra da Salvação – diz o
Concílio Vaticano II – manifesta-se desde o tempo da conceição virginal de
Cristo até a sua morte”.
Devemos
aprender hoje, uma vez mais, que cada encontro com Maria representa um novo
encontro com Jesus. “Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus. E aprenderemos
a entender um pouco do que há no coração de um Deus que se aniquila [...]”, que
se torna acessível no meio da simplicidade dos dias correntes de uma cena
doméstica como a visita de Maria à sua prima Santa Isabel.
Lembremo-nos,
porém, de que esse dom imenso – podermos conhecer e amar a Cristo – teve o seu
começo na fé de Santa Maria:Bem-aventurada a que acreditou, diz Isabel a
Maria. “A plenitude de graça, anunciada pelo anjo, significa o dom do próprio
Deus; a fé de Maria, proclamada por Isabel na Visitação, significa que a Virgem
de Nazaré correspondeu a esse dom”.
Manter
a fé, robustecê-la no meio da vida diária, não é fácil. Tudo parece tão banal
ou tão necessário, tão dependente dos nossos esforços ou de leis meramente
naturais, que tendemos a perder de vista que é Deus quem produz em nós o querer
e o agir. Sem mim, nada podeis fazer, disse-nos o Senhor: nada.
O nosso Deus é um Deus escondido, que prefere atuar por meio de causas
segundas. Seremos tão insensatos – e tão infelizes – que não descubramos a sua
mão amorosa, os seus desígnios eternos, tanto nos eventos mais clamorosos como
no suceder “mecânico” das horas de trabalho, da vida familiar? Para um homem de
fé, para uma mulher de fé, tudo é Providência.
O
CLIMA QUE RODEIA e
empapa o episódio da Visitação é de alegria; o mistério da Visitação é um
mistério jubiloso. João Batista exulta de alegria no seio de Santa Isabel;
Isabel, cheia de alegria pelo dom da maternidade, prorrompe em aclamações ao
Senhor; e, enfim, Maria eleva aos céus o Magnificat, um hino
transbordante de alegria messiânica. O Magnificat é “o
cântico dos tempos messiânicos, onde confluem a alegria do antigo e do novo
Israel”. E é a manifestação
mais pura do segredo íntimo da Virgem, que lhe fora revelado pelo anjo. Não há
nele rebuscamento nem artificialismo: é o espelho da alma de Nossa Senhora, uma
alma cheia de grandeza e tão próxima do seu Criador: A minha alma glorifica
o Senhor, e o meu espírito rejubila em Deus, meu Salvador.
E
com este canto de alegria humilde, a Virgem deixou-nos uma profecia: Eis
que desde agora me chamarão bem-aventurada todas as gerações. “Desde
remotíssimos tempos a Bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de Mãe de
Deus, sob cuja proteção os fiéis se refugiam súplices em todos os seus perigos
e necessidades. Por isso, sobretudo a partir do Concílio de Éfeso, o culto do
povo de Deus a Maria cresceu maravilhosamente em veneração e amor, em
invocações e desejos de imitação, de acordo com as suas próprias palavras
proféticas: Eis que me chamarão bem-aventurada todas as gerações,
porque fez em mim grandes coisas aquele que é Todo-Poderoso”.
A
nossa Mãe Santa Maria não se distinguiu por nenhum feito prodigioso; o
Evangelho não nos dá a conhecer nenhum milagre que tenha realizado enquanto
esteve na terra; poucas, muito poucas são as palavras que dEla nos conservou o
texto inspirado. A sua vida aos olhos dos outros foi a de uma mulher corrente,
que devia levar adiante a sua família. No entanto, a profecia cumpriu-se
fielmente. Quem pode contar os louvores, as invocações, as oferendas e os
santuários em sua honra, as devoções marianas...? Ao longo de vinte séculos,
chamaram-na bem-aventurada pessoas de todo o gênero e condição: intelectuais e
gente que não sabia ler, reis, guerreiros, artesãos, pessoas de idade avançada
e crianças que começavam a balbuciar... Nós estamos cumprindo agora aquela
profecia. Ave Maria, cheia de graça [...], bendita sois vós entre as
mulheres..., dizemos-lhe na intimidade do nosso coração.
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