terça-feira, 27 de agosto de 2013

Santo Agostinho /28/08/2013



Por: Heriberto da Mota de Arruda Barros[1]

http://www.paraclitus.com.br/2011/anoticias/santo-agostinho-um-modelo-por-gabriel-viviani/


RESUMO

            Agostinho, teólogo e filósofo cristão, viveu em um período bastante conturbado, no qual Roma experimentava a destruição do seu Império. Por este motivo, os cristãos ou não-cristãos (pagãos), acusavam o cristianismo como sendo o responsável pelas calamidades acontecidas contra o império. O presente artigo aborda as principais idéias agostinianas sobre a Cidade de Deus escrita para defender-se de tais acusações. É uma verdadeira resposta de defesa ativa para as argumentações repressoras que o cristianismo havia recebido, mais precisamente o Deus de amor que “deixara” o império ruir.

INTRODUÇÃO

            Ao estudarmos os escritos de Agostinho, é possível analisarmos historicamente as tradições do Cristianismo e seus fundamentos racionais. Nesta caminhada observamos que o legado que nos deixa Agostinho não é só de interesse Teológico e Filosófico, pois, abrange diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, a nossa que conseguimos obter diversas informações preciosas.
            É tratado de forma bem sintética as “revelações” feitas por Agostinho contidas no seu livro Cidade de Deus, assim como a utilização de outras biografias de apoio como Cremona, Campenhausen e um dos escritos importantíssimos do próprio Agostinho: As Confissões os quais esclarecem sobre a sua importância.
            O grande “mestre” combateu com todas as suas forças as heresias de seu tempo, expressas no maniqueísmo, no Donatismo, no Arianismo e no Pelagianismo. Ele tem sido lembrado e respeitado no decorrer da história do Cristianismo, não somente porque a sua filosofia e sua teologia foi à abertura para o cristianismo do medievo, como também o fato de sua vida ter sido alvo de um testemunho de piedade cristã. 
UM HOMEM A PROCURA DA VERDADE

            Aurelius Augustos, conhecido como Santo Agostinho nascido em 354, natural de Tagaste, hoje Numídia, região da África, Primogênito de Patrício, funcionário municipal, e Mônica, fervorosa e piedosa cristã que segundo relatos, eram um casal de classe média.          
Quando criança, Agostinho desejava ser batizado quando tinha indigestão e orava para não ser espancado na escola. Para ele, essa prática de orar era natural (em sua infância), pois, foi uma ação ensinada por sua mãe. A falta desta prática religiosa se deu a partir do momento que sua masculinidade começa a florescer, período bastante “pervertido” vivenciado pelo filho de Mônica. Era um jovem angustiado, um atormentado. Gostava dos prazeres terrenos e a eles se entregava.

“Minha alma não se encontrava bem; estava ferida, e assim chegada, tentava curar-se das coisas sensuais. Amar e ser amado era a coisa mais doce para mim, sobretudo quando podia gozar do corpo da pessoa amada. E assim sujava a amizade com a nódoa da concupiscência; Assim a enegrecia a sua brancura com a fuligem e luxúria. E apesar de minha desonesta sujidade, desejava vaidosamente que me tivessem por elegante e educado.
Precipitei-me finalmente no amor em que desejava cair: fui amado! E embora ocultamente, que pude gozar do vínculo do prazer e atei-me com alegria a essas pesadas correntes, que depois acoitam como varas incandescente, feitas de ferro dos ciúmes, das suspeitas e dos temores, dos ódios e das rixas. (Confissões, 1985, p. 32-3)

Como estudante, viveu libertinamente, mantendo relações com várias mulheres, das quais, resultou um filho, Adeodato, nascido em 384, a quem Agostinho não negou a Paternidade.

(...) E como o filho já não era mais um menino, estava No limiar da puberdade, ficava a observar os sinais do seu desenvolvimento. Quando um dia em que o levara consigo as termas, no ato do banho, percebeu que aquele galinho erguia a crista e logo cantaria o seu cocoricó no galinheiro, ficou satisfeitíssimo e, chegando em casa, anunciou à sua mulher: “Podemos nos considerar avós!” (...) (Agostinho de Hipona, A Razão e a Fé – Carlo Cremona, p. 22)

Ao contrário da reação de Patrício, a piedosa “Santa” Mônica, replica ao seu marido como sendo ele uma corrupção para o filho, o qual ela já sonhará em perfeita comunhão com Deus. Patrício se convertera ao cristianismo pouco tempo antes de seu falecimento.
Lendo uma das obras de Cícero, Agostinho sentiu-se mais atraído por uma vida menos sensual e mais comprometido com a busca da verdade. Busca essa que estava no cerne de sua espiritualidade e que o incomodava muito. Este foi sempre o motivo pelo qual Agostinho viveu percorrendo muitos “ambientes”, à procura desta verdade.
            Juntou-se a uma seita bastante difundida, não só entre a elite intelectual de Cartago, mas em toda a parte, e assim tornou-se um Maniqueísta.
            Segundo CAMPENHAUSEN “a comunidade dos “Maniqueus”, fundada pelo persa Mani no século III, foi a última grande criação religiosa do oriente no período entre o cristianismo e o Islamismo. Essa seita rejeitava o Judaísmo e o Antigo Testamento, porém aceitava Cristo entre seus precursores” (2005, p. 333)
            A crença central do Maniqueísmo consiste em afirmar a existência de dois princípios fundamentais que governam o universo, o Bem e o Mal, representado pela Luz e pelas Trevas, e que são equivalentes em força, estando em permanente combate. Esta idéia se assemelha bastante na crença do Céu e do inferno da Cristandade, forças essas que estão em conflitos espirituais.
            Vejamos o que nos diz Agostinho em suas confissões sobre o Maniqueísmo:
“Desta forma, vim a encontrar um grupo de homens que depois percebi não serem mais que uns vaidosos sensuais e charlatões, até a sociedade. Só dizem mentiras e erros. Este grupo – os maniqueus - tinha nos lábios uma palavra composta por várias sílabas tomadas de deus Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Embora usassem continuadamente estes nomes, tinham o coração bem longe d’Eles. (Confissões, 1985, p.37 -8) 

            O nosso grande “mestre” nesta simples passagem literalmente “cospe no prato em que se deliciou” desdiz o que afirmara com vivacidade antes de seu encontro com Cristo. Será que o Cristo que habitava em sua alma não o castigaria por “atacar” sem piedade seus irmãos pervertidos, mesmo sendo eles considerados hereges? De qual forma trataria Cristo estes homens? Atacando-os sem os dar direitos de réplica? Agostinho tinha em suas mãos as cartas nas mangas para atacar os maniqueus, já que outrora fora uns deles, os argumentos usados seriam aqueles que realmente o ferissem.
Pois bem, passemos adiante nestes pequenos comentários sobre a vida do Nosso “Santo”.
Durante um bom período, o Maniqueísmo serviu de consolo para Agostinho, mais não foi lá com os Maniqueus que encontrara a verdade a qual tanto procurara e que saciaria sua alma.
Em 384, tempo de Outono, chega Agostinho a Milão esperançoso de novas perspectivas de vida que “alegrara” o seu coração confuso e desnorteado. Tornou-se professor de retórica e entrou em contato com a filosofia Neoplatônica, e ao mesmo tempo ouvia os sermões do bispo Ambrósio, o qual considerava um grande homem de simplicidade e vivacidade e culto pregador das Palavras Divinas, o qual serviria testemunho para sua vida cristã.
Agostinho teve acesso á literatura paulina, especialmente as Cartas aos Romanos: “Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites.” (Romanos. 13: 13-14). A partir destas palavras pronunciadas por Paulo pela inspiração do Mestre, Agostinho tomaria outros caminhos bem distantes do qual vivia antes e seria uma “nova criatura”.
Pouco tempo antes da morte da sua mãe Mônica, Agostinho se batizou juntamente com o seu filho e seu amigo Alípio para a “consumação” da sua fé: “Unimos a nós o meu filho Adeodato nascido do meu pecado, em que Deus se derramara abundantemente: tinha quinze anos, e já a sua inteligência excedia a de pessoas muito mais velhas e mais sábias do que ele.” (Confissões, 1985, p.160) Com toda a certeza a sua mãe agora poderia descansar em paz, já que o seu desejo de ver o filho perto do Senhor havia se concretizado de uma forma tão precisa e verdadeira.
Fundou em sua terra natal na companhia de vários amigos, uma comunidade monástica e em visita a Hipona, conheceu o Bispo Valério que o “convenceu” a se ordenar como sacerdote e desta forma teria Agostinho que se afastar de suas “obrigações” na comunidade a qual vivia. Com a idade avançada do Bispo Valério, nomeia Agostinho como sendo o bispo auxiliar e após a sua morte foi chamado para assumir o cargo deixado pelo velho Bispo. Nesta fase de sua vida Agostinho arrumará tempo para escrever umas de suas importantes obras, “Confissões”, em que o tema central passa a ser considerado a tormenta a qual passou longe de Cristo em sua adolescência e juventude.

O IMPÉRIO EM DESTRUIÇÃO – A OBRA DE AGOSTINHO
            Após este breve histórico da vida deste homem tão importante para a Igreja Cristã e ainda mais para os estudos Históricos da mesma, localizemos o nosso “Doutor e Filósofo” contextualizando-o com o momento histórico no qual estava inserido.
            No século III o Império Romano vivencia momentos conflituosos, que determinarão o seu fim. O império sofrendo abruptamente não consegue mais expandir suas fronteiras, reduzindo desta forma o número de escravos e povos conquistados.
            Sem escravos suficientes, a produção agrícola entra em fragmentação, transformando a realidade econômica e afetando a organização de toda estrutura social e Imperial, inclusive a militar, já que muitos dos “alistados” abandonaram seus postos.
            Por estes problemas ocorridos no Império, por esta fragilidade e fragmentação, Roma é “devastada” pelos bárbaros que encontram espaços suficientes para se infiltrarem. Deu-se, então, uma ruralização da economia e uma evasão das cidades para os campos, o que agravava ainda mais o problema de segurança das cidades que estavam sendo abandonadas.
Em 28 de agosto 410, Roma, absolutamente fragilizada, foi saqueada por Alarico, um visigodo, iniciando a desestruturação total do Império Romano do Ocidente.
CAMPENHAUSEN nos afirma a importância do efeito demolidor com o qual Roma suportava a invasão experimentada:
“Esse evento teve um efeito demolidor e distante de sua real importância política. Como pode entender que a capital do antigo império, soberana do mundo e cidade eterna, tivesse sofrido uma destruição tão violenta? O mundo todo parecia tremer em suas bases e os pagãos sabiam qual a explicação! A seus olhos, a catástrofe era o castigo pelo abandono das antigas divindades guardiãs e da religião tradicional: obviamente, o novo Deus cristão do império havia se mostrado impotente e fracassado. (2005, p. 374)

            É dentro deste contexto histórico que encontramos Agostinho. Tal fato provocou os romanos, Cristãos ou não, a levantaram questionamentos sobre a base ideológica – religiosa imposta pelos patrícios, pois se defendia que este tinha um sustentáculo metafísico, como pensava Platão. Para os pagãos, o saque de Roma, portanto, não poderia ter outra causa se não a da aceitação do Cristianismo em detrimento dos cultos dos deuses. E posta desta forma a culpa pela fragmentação do império no Deus cristão. De tal maneira, admitir as crises internas as quais vivia Roma era assegurar sua própria fraqueza
 “A queda de Roma abalou o Império. Todos os cristãos e não cristãos acusavam o cristianismo: o deus do amor e da caridade não serve para institucionalizar, isto é, organizar e defender uma civilização e uma cultura. 410 é a demonstração prática da fraqueza política do Deus dos cristãos.” (AGOSTINHO, 2006, p.17) 

                        Ao contrário do que pensavam os romanos em relação à culpa da queda de Roma pela presença do Cristianismo, aparece a Cidade de Deus. Esta obra de Agostinho tem como seu principal conteúdo a interpretação do mundo à luz da Fé do Cristianismo. Agostinho baseava-se também na filosofia grega e que exerceria forte influência no novo momento histórico que estava por se iniciar (Idade Média).
O conteúdo da obra é utilizado como argumentação para refutar as acusações vindas por parte dos romanos. Ele relata que momentos piores e mais “escuros” haviam ocorrido antes do Cristianismo ser apresentado como religião oficial.
É interessante notar que em sua obra, Agostinho utiliza-se de várias personalidades romanas para respaldar ou exemplificar seus argumentos como o caso de Lucrecia que se matou por haverem-na estuprado. Diz Agostinho que exalta a castidade de Lucrecia uma nobre dama da velha Roma. Ela era mantida como uma personalidade por ter se sacrificado, mas o nosso “Santo” reverte esta situação acusando-a. “Que diremos de Lucrecia? Adultera? Casta? Quem suspeitaria dificuldade em tal caso?” (AGOSTINHO, 2006, p.50). Percebermos então da parte de Agostinho uma linguagem satirizada ao retratar fatos vivenciados por Roma. Ele consegue maltratar, atacar, as antigas crenças do império. Não são poucas passagens em que a sátira é utilizada, podemos até dizer que o livro foi escrito de forma satírica. Principalmente quando ele quer atacar os deuses pagãos os quais ele considera vivos, mas não deuses e sim nada mais que demônios. Eram histórias tidas como sagradas em Roma, muitos dos que lá viviam e partilhavam da cultura romana acreditavam que eram verdadeiras e até mesmo sagradas. Tais essas histórias passam a ser observada de outro ângulo por Agostinho, ele consegue convencioná-las. Elas serviriam para catequizar os homens e aproximá-los de Deus. O importante era afastá-los dos antigos cultos pagãos e dos “demônios” que conseguiram impregnar sua “maldade” no coração daqueles que deveriam servir ao único senhor.
Como já foi observado os pagãos atribuíram a invasão ao fato de os romanos terem abandonado os deuses antigos. De acordo com eles, enquanto fora adorado, Júpiter protegera a cidade. Ao ser “trocado” pelo Cristianismo, deixara de fazê-lo. Em seu livro Cidade de Deus, na passagem que se segue Agostinho condena o comportamento daqueles que estiveram seguros em Cristo enquanto o problema de Roma estava gritante. Muitos haviam se refugiado em Cristo para não serem mortos e após os momentos de turbulência condenam a presença do cristianismo:
          “Assim escapou a morte a maioria desses caluniadores de nossa era cristã, que atribuem ao Cristo, os males que Roma sofreu; o benefício da vida, por eles devido ao nome do Cristo, não é o nosso Cristo, porém, que atribuem, e sim ao destino, quando maduramente refletissem, no que suportaram de infortúnios poderiam reconhecer a providência que se vale do flagelo da Guerra para corrigir e pulverizar a corrupção humana e, atormentando com semelhanças aflições almas justas e meritórias, faz que, depois da prova, passem o melhor destino ou os retém na Terra para outros desígnios.” (AGOSTINHO, p. 28 -9)                


            Por esta passagem percebemos a firmeza das palavras utilizadas por Agostinho para “proteger-se” das acusações que lhes eram impostas e para revelar aos Romanos que a salvação estava acerca daqueles que aderiam o cristianismo. Anunciava nas entrelinhas de seus escritos, a libertação que o Cristo Jesus estava por oferecer, esta sim era a proteção real, a única divindade que deveria ser adorada e não aqueles que eles consideravam deuses. Argumenta Agostinho que os deuses dos pagãos eram perversos, pois, afastavam o povo da Cidade de Deus. Em razão desses deuses Roma sempre fora perversa e pecaminosa, e esse quadro só se reverteria quando aceitassem a salvação advinda através de Cristo Jesus. Com o Cristianismo, ela se salvaria. Se a cidade terrena fosse invadida, do que isso valeria? O maior objetivo, a salvação por meio da bondade e providencia divina era atingir a Cidade de Deus, a morada dos eleitos, daqueles que estavam dispostos a renunciar o mundo carnal para viver plenamente em Cristo Jesus, salvação eterna oferecida pelo Pai que se manifesta pelo poder e atuação do Espírito Santo.
De certo modo, Agostinho consegue “mexer” na história de Roma, consegue transformá-la a seu pensamento. Assim nos diz CAMPENHAUSEN:
         “Agostinho se aventura em descrever um detalhado e terrível ensaio de toda a história de Roma. Começando com o fratriador Rômulo, até as últimas abominações da República. Trata-se de um ataque sincero desfechado contra as sacrossantas tradições, e que, até então, nuca haviam sido tentado desta forma, e onde ele rasga a máscara da face da hipocrisia romana. (2005, p.377)

Agostinho, na Cidade de Deus, divide a sociedade em dois “partidos” opostos: A Cidade de Deus e a Cidade Terrena. “Com efeito, ambas as Cidades enlaçam-se e confundem-se no século até que o juízo final as separe.” (AGOSTINHO, 2006, p.64). Na cidade de Deus encontramos uma “ordem de Fé” para entendermos o mundo e a própria historia do homem. “Tudo o que aparece no mundo e aparece na história é pertencente à Fé como também a providência divina. (Cf. idem, 2206, p.18)
O texto pode ser considerado uma obra Teológica e Filosófica, na qual Agostinho tenta convencer os cristãos e os pagãos que a destruição do Império Romano fazia parte da vontade divina. E para isto usava de argumentos bastante convincentes e concisos. Como retórico que era, sabia como se portar, e escrevia para não se contradizer. Mesmo sendo um suntuoso escritor chega a se contradizer desenvolvendo uma fórmula não convincente; a não ser que o elemento Fé fosse utilizado ao analisar a narração:
“Desse modo, o povo, que começara a desgostar-se do Senado, conteve-se e sossegou. Houve também um eclipse do Sol e o vulgo ignorante, desconhecendo o movimento predeterminado dos astros, atribui-u aos merecimentos de Rômulo, como se o sol houvesse posto luto. Portanto. Não deviam continuar na crença de que fora morto e o eclipse da luz do dia era índice do crime, como deveras sucedeu quando crueldade e impiedade dos judeus crucificaram o Senhor. Prova evidente de não haver aquele obscurecimento acontecido segundo o curso ordinário dos astros é que transcorria a Páscoa dos judeus, celebrada somente no plenilúnio, quando o eclipse do Sol apenas sucede no fim do quarto minguante. (AGOSTINHO, p. 122)     

            “A Cidade de Deus foi escrita por Agostinho para tratar do confronto que a Cristandade enfrentava com a História. Escrita entre 413 a 426 é a interpretação do mundo à luz da fé cristã. Trata-se da primeira teologia e filosofia da História.” (AGOSTINHO, 2006, p.17)
Em seus primeiros livros, é possível perceber uma forte argumentação de defesa ao Cristianismo como já enfatizamos anteriormente. Desta forma, é encontrada uma dialética entre dois tipos de argumentos, uma acusação por parte dos Romanos e uma contra-argumentação agostiniana, e a segunda com o poder suficiente para derrubar a primeira.
            Podemos constatar essa dialética na seguinte passagem no livro primeiro da Cidade de Deus que tem como título “Graças e desgraças comuns, na maioria, a bons e maus”:
“Mas alguém perguntará por que, nesse caso, se estendeu aos ímpios, aos ingratos a misericórdia divina. Por quê?! Sem dúvida porque emanou de quem, todo dia. Faz o Sol erguer-se sobre os bons e os meus e chover sobre os justos e injustos. Embora vários deles, pensando nisso, se corrijam da impiedade pelo arrependimento e outros, na dureza impenitente do coração, desprezando as riquezas de sua bondade e paciência, entesourem cólera para o dia da vingança e do juízo, em que a infalível justiça recompensará cada qual segundo suas obras, a paciência de Deus convida os maus a penitencia, como os flagelos adestram os bons na paciência. E como a misericórdia de Deus abraça os bons para auxiliá-los, sua severidade apodera-se dos maus para castigá-los. Com efeito, prouve à divina Providência preparar para os justos, no futuro, bens de que os injustos não gozarão e para os ímpios males pelo quais os bons jamais serão atormentados. Quanto aos bens e males temporais, a Providência quis fossem comuns uns aos outros, a fim de o homem não apetecer com demasiada avidez os bens que vê também nas mãos dos maus e não evitar vergonhosamente os males que, de ordinário mesmo, afligem os bons.” (AGOSTINHO, 2006, p. 35-5)

Outro elemento que pode ser observado nesta passagem são os argumentos utilizados por Agostinho para entender o porquê do mal existir.
            Mais uma vez utilizando as palavras de CAMPENHASEN, “Agostinho toma como base a Bíblia e os antigos historiadores” (2005, p. 380), nos dá uma descrição detalhada de ambas as “cidades” de sua origem e de seu desenvolvimento e progresso através do tempo terreno, “afim de concluir com a expectativa da ressurreição e o término do tempo na eternidade.” (Idem, p.380)  
            Por este procedimento transforma o teólogo em um historiador, e é possível se dizer que, é o primeiro “filósofo da história”. (Cf. CAMPENHAUSEN – 2005, p. 380)  
O desenvolvimento das cidades está bem distante dos conceitos que trazemos sobre evolução. “Deus determina a história, e o resultado disso é precisamente a incompreensão dos acontecimentos concretos que se sucedem a cada momento, que devemos aceitar e não tem qualquer possibilidade de explicação. (idem, p.380) 
Sobre isso nos afirma CREMONA:
“O esforço de Agostinho em compor a sua obra prima A Cidade de Deus é, não só teológico, mas também moral e cívico.” (1990, p. 224).
É possível observarmos diante de tudo o que já foi visto, a postura filosófica que teve Agostinho ao escrever a Cidade de Deus, suas colocações, seus ensinamentos, nos remetem ao cerne da Filosofia da História.
Agostinho quer mostrar para “todos” que o tempo pertence a Deus e ele nos permite viver em meio às adversidades para a lapidação. Deste modo, o ser passa por um crescimento tanto humano quanto espiritual. Assim “estaríamos” prontos para participarmos da Cidade Eterna ou a conhecida Cidade de Deus esta observada teologicamente.
            É um verdadeiro discurso filosófico que é encontrado em todo o desenrolar da Cidade de Deus. Durante todas as passagens é possível enfocar o desfecho das duas cidades que se divergem e se entrelaçam em si mesmas. A Babilônia, o lugar do Cativeiro, do presídio, do afastamento de Deus, e a Jerusalém, o lugar da vida em abundância, da libertação.
            A “missão” de Agostinho ao escrever a Cidade de Deus, tem a real intenção retórica para humanizar e salvar os homens. Agostinho afirma que no homem há dois amores em choque, como também na própria sociedade civil. As sociedades humanas se aproximam mais do amor a esse mundo, seguindo a vontade das massas, por isso está totalmente sujeita a ruínas, assim como o império ruiu.   Mas a Cidade de Deus, acima de tudo, pode influenciar e aprimorar a cidade dos homens até porque elas não vivem separadas. Enfatizando é claro, que a cidade de Deus é superior a cidade terrena e por isso a primeira deve exercer autoridade sobre a segunda. “A respeito da origem, progresso e do fim que as aguarda é que quero desenvolver meus pensamentos, com a divina assistência e para glória da Cidade de Deus, que o cotejo de tantos contrastes há de tornar mais resplandecente.” (idem, 2006, p.64)
            “Não vás para fora, volta-te para dentro. É no interior do homem que mora a verdade”. (idem, 2206, p.20). É este o convite que Agostinho faz ao leitor, deseja que entremos em nosso interior e nos liberte-mos de nossas fraquezas, das prisões e paixões mundanas que nos levam aos prazeres da cidade terrena e que nos separam da Cidade Eterna, discurso este que deve ser observado mais uma vez com o elemento fé no início.  Em análise final a esses comentários, sabemos que foi um simples enfoque nos principais aspectos da vida e obra de Agostinho e que a Cidade de Deus oferece bem mais informações, questionamentos e reflexões.

CONCLUSÃO
            Foi possível através de uma simples análise de alguns capítulos da Cidade de Deus escrita por Agostinho, considerado por muitos como “Doutor, Santo Padre da Igreja e Filósofo”, compreendermos a sua capacidade dialética e a forma como ele aborda “a vontade de Deus” aos de sua época.
            Podemos ate dizer que a Cidade de Deus foi escrita para denunciar o fim da antiguidade Clássica e anunciar um novo momento que nascia com o medievo, para o qual muitos dos escritos de Agostinho seriam utilizados como regras.
            Da mesma forma Agostinho trabalhava em seu livro uma teoria catequética, anunciando o reino celeste como único bem da humanidade. Os cristãos eram convidados através de Agostinho para renunciar as obras carnais, e se aproximarem dos bens celestes constituídos na Cidade Divina.

“Perguntei-o a terra, e ela respondeu-me: “não, não sou eu”; e todas as outras coisas da Terra disseram-me o mesmo”. Perguntei-o ao mar e ao abismo e aos seus velozes répteis, disseram-me: “não, não somos o teu Deus; busca-o mais acima”. Perguntei-o á brisa e ao ar que respiramos e aos moradores do espaço, e o ar disse-me: “Anaxímamenes enganou-se; eu não sou o teu Deus”. Perguntei ao céu, ao sol e á lua e às estrelas, e responderam-me: “não, também não somos nós o Deus que buscas”. Disse então a todas essas coisas que estão fora de mim: “ apesar de não serdes Deus, dizei-me ao menos alguma coisa d’Ele, dizei-me alguma coisa do meu Deus”!. (Confissões, 1985, p. 182).


Santa Mônica 27/08/2013


Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho

Nasceu de família cristã, da qual recebeu boa educação. Submetera-se inteiramente ao marido, suportando os seus escárnios e transportes de cólera com uma paciência que servia de exemplo às outras mulheres, e conquistou-o, assim, para Deus, no fim da vida.
Santa Mônica.jpg
Santa Mônica
Tinha o talento particular de reunir as pessoas divididas. Depois que enviuvou, dedicou-se inteiramente às obras de piedade. Dava grandes esmolas, servia aos pobres, não faltava nenhum dia à oblação do santo altar, nem de vir duas vezes à igreja, na manhã e à tarde, para ouvir a palavra de Deus e fazer preces, em que consistia toda sua vida. Deus comunicava-se com ela por meio de visões e de revelações; ela sabia distingui-las dos sonhos e dos pensamentos naturais. Tal era Santa Mônica, na narração de Santo Agostinho.
Quando viu o filho envolvido nas peias da heresia dos maniqueus, afligiu-se mais do que se morto o visse, e não queria mais tomar as refeições com ele: mas foi consolada por um sonho. Viu-se sobre uma prancha de madeira e ao jovem homem resplandecente que lhe vinha ao encontro e lhe perguntava a causa de sua dor, respondeu que chorava a perda de seu filho. "Olhai, disse ele, ele está convosco!" Com efeito, ela o viu ao pé de si, na mesma prancha. Contou o sonho a Agostinho, que lhe respondeu: "É que sereis o que sou agora". Mas ela replicou sem hesitar: "Não; porque não me disse?: Será o que ele é, mas ele irá para onde tu estás." Depois disto ela morou e tomou suas refeições com ele, como anteriormente.
Dirigiu-se a um santo bispo e solicitou-lhe que falasse ao filho. O bispo respondeu: "Ainda é demasiadamente indócil e demasiadamente imbuído desta heresia, que lhe é nova. Deixai-o, e contentai-vos em pedir por ele; ele verá, com leituras, qual é o erro. Eu, que vos falo, em minha infância, fui entregue aos maniqueus por minha mãe, que eles haviam seduzido; não somente li, mas transcrevi quase todos os seus livros, e, por mim mesmo, desenganei-me."
A mãe não se satisfez com estas palavras, e continuou a instar para que falasse ao seu filho. O bispo respondeu-lhe então com certo humor: "Ide, é impossível que o filho de tantas lágrimas pereça!" Isso ela recebeu como um oráculo do céu. Seu filho, todavia, permaneceu nove anos maniqueu, desde a idade de dezenove anos até os vinte e oito.
No ano 384, Agostinho veio a Milão ensinar retórica, e conheceu Santo Ambrósio, que o desiludiu paulatinamente do maniqueísmo. Resolveu definitivamente abandonar os maniqueus e permanecer na Igreja, na qualidade de catecúmeno, como dizia ele, na Igreja que os pais lhe haviam recomendado, isto é, na católica, até que a verdade se lhe revelasse mais claramente.
Santa Mônica veio da África encontrá-lo em Milão, com tão viva fé, que atravessando o mar, consolava os marinheiros, mesmo nos maiores perigos, pela certeza que Deus lhe havia que chegaria até seu filho. Quando ele lhe disse que não era mais maniqueu, mas que ainda não era católico, ela não se surpreendeu; respondeu-lhe tranquilamente que estava certa de vê-lo fiel católico antes de deixar esta vida. Entrementes, continuava com as preces e atenta às prédicas de Santo Ambrósio, a quem amava como anjo de Deus, sabendo que havia levado seu filho a esse estado de dúvida, que deveria ser a crise de seu mal. Como tivesse o costume, na África, de levar às igrejas dos mártires pão, vinho e carnes, queria fazer o mesmo em Milão; mas o porteiro da igreja lhe impediu e lhe disse que o bispo o havia proibido. Ela obedeceu imediatamente, sem que nenhum apego ao costume. Santo Ambrósio, de resto, havia abolido esses repastos nas igrejas, porque, em lugar dos antigos ágapes sóbrios e modestos, não ofereciam senão oportunidade para devassidão. Amava, por seu lado, Santa Mônica pela piedade e boas obras, e sempre felicitava Agostinho de ter mãe como aquele; porque toda sua vida fora virtuosa.
Santo Agostinho, após o batismo, tendo examinado em que lugar poderia servir a Deus mais utilmente, resolveu voltar para a África com a mãe, o filho, o irmão e um jovem chamado Evódio. Ele era também de Tagasta; sendo agente do imperador, converteu-se, recebeu o batismo antes de Santo Agostinho, e deixou o cargo para servir a Deus.
Quando chegaram a Óstia, descansaram do longo caminho que haviam feito desde Milão e se prepararam para o embarque.
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Um dia, Santo Agostinho e sua mãe, debruçados ambos sobre uma janela que dava para o jardim da casa, entretinham-se com uma doçura extrema, esquecendo todo o passado e conduzindo o pensamento para o futuro. Buscavam saber qual seria a vida eterna dos santos. Elevaram-se acima de todos os prazeres dos sentidos; percorreram gradativamente todos os corpos, o próprio céu e os astros. Chegaram até as almas, e, passando por todas as criaturas, mesmo espirituais, alcançaram a sabedoria eterna, pela qual elas são, e que é sempre, sem diferença de tempo. Ali permaneceram um momento no auge da satisfação espiritual, e suspiraram contrafeitos ao serem obrigados a voltar ao ruído da voz, onde a palavra começa e acaba. Então a mãe lhe disse; "Meu filho, pelo que me diz respeito, já nenhum prazer me prende a esta vida. Não sei o que faço aqui, nem porque existo. O que me fazia ansiar aqui permanecer era ver-vos cristão católico antes de morrer. Deus concedeu-me mais; vejo-vos consagrado a seu serviço, após haverdes desprezado a felicidade terrena."
Aproximadamente cinco anos após, caiu doente com febre. Um dia perdeu os sentidos; ao voltar a si, encarou Agostinho e seu irmão Navígio, e lhes disse: "Onde estava eu?" Depois, vendo-os compungidos de dor, ajuntou: "Deixareis vossa mãe aqui." Navígio manifestou o desejo de que ela morresse de preferência no seu país. Mas ela encarou-o com olhar santo Agostinho e severo, como a repreendê-lo e disse a Agostinho: "Vê o que ele diz!" Enfim, dirigindo-se a ambos: Colocai este corpo onde vos aprouver; não vos inquieteis. Peço-vos somente que vos lembreis de mim no altar do Senhor, onde quer que estejais."
Morreu no nono dia da enfermidade, na idade de cinqüenta e seis anos, e no trigésimo-terceiro de Santo Agostinho; isto é, no mesmo ano de seu batismo, 387.
Assim que expirou, Agostinho fechou-lhe os olhos. O jovem Adeodato lançava gritos lancinantes; mas os circunstantes o fizeram calar, não vendo motivo algum para lágrimas nesta morte, e Agostinho conteve as suas, fazendo violência a si próprio.
Evódio tomou do Saltério e principiou a cantar o salmo centésimo: "Cantarei em tua honra, Senhor, a misericórdia e a justiça." Toda a casa respondia, e em poucos instantes se congregou grande número de pessoas piedosas de ambos os sexos. Levaram o corpo; ofereceu-se pela defunta o sacrifício de nossa redenção; fizeram-se as preces ao pé do sepulcro, segundo o costume, em presença do corpo, antes de enterrá-lo. Santo Agostinho manteve os olhos enxutos durante toda a cerimônia; mas enfim, à noite, deixou correr livremente as lágrimas para aliviar a dor. Orou por sua mãe, como fazia ainda tempos após, descrevendo todas as circunstâncias que cercaram essa morte no primeiro livro de suas Confissões; pediu aos leitores que se lembrassem no santo altar, de Mônica, sua mãe, e de seu pai, Patrício.

sábado, 24 de agosto de 2013

São Bartolomeu Apóstolo 24/08/2013


24 de Agosto - São Bartolomeu

Bartolomeu, também chamado Natanael, foi um dos doze primeiros apóstolos de Jesus. É assim descrito nos evangelhos de João, Mateus, Marcos e Lucas, e também nos Atos dos Apóstolos.

Bartolomeu nasceu em Caná, na Galiléia, uma pequena aldeia a quatorze quilômetros de Nazaré. Era filho do agricultor Tholmai. No Evangelho, ele também é chamado de Natanael. Em hebraico, a palavra "bar" que dizer "filho" e "tholmai" significa "agricultor". Por isso os historiadores são unânimes em afirmar que Bartolomeu-Natanael trata-se de uma só pessoa. Seu melhor amigo era Filipe e ambos eram viajantes. Foi o apóstolo Filipe que o apresentou ao Messias.

Até esse seu primeiro encontro com Jesus, Bartolomeu era cético e, às vezes, irônico com relação às coisas de Deus. Porém, depois de convertido, tornou-se um dos apóstolos mais ativos e presentes na vida pública de Jesus. Mas a melhor descrição que temos de Bartolomeu foi feita pelo próprio Mestre: "Aqui está um verdadeiro israelita, no qual não há fingimento".

Ele teve o privilégio de estar ao lado de Jesus durante quase toda a missão do Mestre na terra. Compartilhou seu cotidiano, presenciou seus milagres, ouviu seus ensinamentos, viu Cristo ressuscitado nas margens do lago de Tiberíades e, finalmente, assistiu sua ascensão ao céu.

Depois de Pentecostes, Bartolomeu foi pregar a Boa-Nova. Encerradas essas narrativas dos evangelhos históricos, entram as narrativas dos apócrifos, isto é, das antigas tradições. A mais conhecida é da Armênia, que conta que Bartolomeu foi evangelizar as regiões da Índia, Armênia Menor e Mesopotâmia.

Superou dificuldades incríveis, de idioma e cultura, e converteu muitas pessoas e várias cidades à fé do Cristo, pregando segundo o evangelho de são Mateus. Foi na Armênia, depois de converter o rei Polímio, a esposa e mais doze cidades, que ele teria sofrido o martírio, motivado pela inveja dos sacerdotes pagãos, os quais insuflaram Astiages, irmão do rei, e conseguiram uma ordem para matar o apóstolo. Bartolomeu foi esfolado vivo e, como não morreu, foi decapitado. Era o dia 24 de agosto de 51.

A Igreja comemora são Bartolomeu Apóstolo no dia de sua morte. Ele se tornou o modelo para quem se deixa conduzir pelo outro ao Senhor Jesus Cristo.

Santa Rosa de Lima 23/08/2013





Santa Rosa de Lima nasceu na cidade de Lima, capital do Peru, no ano de 1586, coincidentemente no mesmo ano da aparição da Virgem Santíssima na cidade de Chiquinquira. Isabel Flores y de Oliva é o seu nome de batismo, mas sua mãe, ao ver aquele rosto rosado e belo, começou a chamá-la de Rosa, nome com a qual ficou conhecida.

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Desde pequena, teve grande inclinação à oração e à meditação. Um dia estava rezando diante de uma imagem da Virgem Maria, com Jesus Cristo ainda bebê nos braços, quando ouviu uma voz que vinha da pequena imagem de Jesus, que lhe dizia: "Rosa, dedique a mim todo o seu amor..."

A partir de então, tomou a decisão de amar somente a Jesus, mas devido à sua beleza, muitos homens acabavam se apaixonando por ela. Para não ser motivo de tentações, Rosa cortou seus longos e belos cabelos, e passou a cobrir o rosto constantemente com um véu.

Decidiu ingressar em um convento da ordem agostina, entretanto, estando diante da imagem da Virgem Santíssima no dia da sua conversão, sentiu que não podia levantar-se nem mesmo com a ajuda de seu irmão. Foi então que percebeu ser tudo aquilo um aviso dos céus para não ir, e bastou fazer uma prece à Nossa Senhora para que a paralisia desaparecesse por completo.

A partir deste dia, Rosa, que se espelhava em Santa Catarina de Sena como modelo de vida a ser seguido, passou a pedir diariamente a Deus para indicar-lhe em que ordem religiosa deveria ingressar. Percebeu que todos os dias, assim que começava a rezar, aparecia uma pequena borboleta nas cores branco e preta, e com este sinal chegou à conclusão que deveria ingressar na Congregação da Ordem Terceira de São Domingos, cujas vestimentas eram nestas cores. Tendo ingressado na ordem aos vinte anos, pediu e obteve licença de emitir os votos religiosos em casa - e não no convento - como terciária dominicana.

Construiu para si uma pequena cela no fundo do quintal da casa de seus pais, e passou a levar uma vida de austeridade, de mortificação e de abandono à vontade de Deus. Através de rigorosas penitências, Rosa eliminou de sua vida todo orgulho, amor próprio e vaidade, cumprindo à risca o que Jesus disse: "Quem se humilha será exaltado". Entre as penitências estava o jejum contínuo: Rosa consumia o mínimo necessário para sua sobrevivência e quase não bebia água. Dormia sobre duras táboas e ao olhar para o crucifixo dizia: "Senhor, a sua cruz é muito mais cruel que a minha".

Quando seu pai perdeu toda a fortuna, Santa Rosa não se perturbou ao ter que trabalhar de doméstica, pois tinha esta certeza: "Se os homens soubessem o que é viver em graça, não se assustariam com nenhum sofrimento e padeceriam de bom grado qualquer pena, porque a graça é fruto da paciência". Vivendo fora do convento, renunciou a inúmeras propostas de casamento e de vida fácil, dizendo: "O prazer e a felicidade que o mundo pode me oferecer são simplesmente uma sombra em comparação ao que sinto". Alcançando um alto grau de vida contemplativa e de experiência mística, suas orações e penitências conseguiram converter muitos pecadores.

Muitos milagres aconteceram após sua morte. Ela foi beatificada por Clemente IX em 1667 e canonizada em 1671 por Clemente X, a primeira da América a ter essa honra. É padroeira da América do Sul e das Filipinas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013


Hoje (22/08) Igreja celebra o dia de Nossa Senhora Rainha

Instituída pelo Papa Pio XII, celebramos hoje a Memória de Nossa Senhora Rainha, que visa louvar o Filho, pois já dizia o Cardeal Suenens: “Toda devoção a Maria termina em Jesus, tal como o rio que se lança ao mar”.

 
Paralela ao reconhecimento do Cristo Rei encontramos a realeza da Virgem a qual foi Assunta ao Céu. Mãe da Cabeça, dos membros do Corpo místico e Mãe da Igreja; Nossa Senhora é aquela que do Céu reina sobre as almas cristãs, a fim de que haja a salvação: “É impossível que se perca quem se dirige com confiança a Maria e a quem Ela acolher” (Santo Anselmo).


Nossa Senhora Rainha, desde a Encarnação do Filho de Deus, buscou participar dos Mistérios de sua vida como discípula, porém sem nunca renunciar sua maternidade divina, por isso o evangelista São Lucas a identifica entre os primeiros cristãos: “Maria, a mãe de Jesus” (Atos 1,14). Diante desta doce realidade de se ter uma Rainha no Céu que influencia a Terra, podemos com toda a Igreja saudá-la: “Salve Rainha” e repetir com o Papa Pio XII que instituiu e escreveu a Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (à Rainha do Céu): “A Jesus por Maria. Não há outro caminho”.

Por Canção Nova

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Santo Pio X 21/08/2013




Santo Pio X Papa

1835-1914


Seu nome de batismo era José Melquior Sarto, oriundo de família humilde e numerosa, mas de vida no seguimento de Cristo. Nasceu numa pequena aldeia de Riese, na diocese de Treviso, no norte da Itália, no dia 2 de junho de 1835. Desde cedo, José demonstrava ser muito inteligente e, por causa disso, seus pais fizeram grande esforço para que ele estudasse. Todos os dias, durante quatro anos, o menino caminhava com os pés descalços por quilômetros a fio, tendo no bolso apenas um pedaço de pão para o almoço. E desde criança manifestou sua vontade de ser padre. 

Quando seu pai faleceu, sua mãe, Margarida, uma camponesa corajosa e pia, não permitiu que ele abandonasse o caminho escolhido para auxiliar no sustento da casa. Ficou no seminário e, aos vinte e três anos, recebeu a ordenação sacerdotal com mérito nos estudos. Teve uma rápida ascensão dentro da Igreja. Primeiro, foi vice-vigário em uma pequena aldeia, depois vigário de uma importante paróquia, cônego da catedral de Treviso, bispo da diocese de Mântua, cardeal de Veneza e, após a morte do grande papa Leão XIII, foi eleito seu sucessor, com o nome de Pio X, em 1903. 

No Vaticano, José Sarto continuou sua vida no rigor da simplicidade, modéstia e pobreza. Surpreendeu o mundo católico quando adotou como lema de seu pontificado"restaurar as coisas em Cristo". Tal meta traduziu-se em vigilante atenção à vida interna da Igreja. Realizou algumas renovações dentro da Igreja, criando bibliotecas eclesiásticas e efetuando reformas nos seminários. Pelo grande amor que dispensava à música sagrada, renovou-a. Reformou, também, o breviário.
Sua intensa devoção à Eucaristia permitiu que os fiéis pudessem receber a comunhão diária, autorizando, também, que a primeira comunhão fosse ministrada às crianças a partir dos sete anos de idade. Instituiu o ensino do catecismo em todas as paróquias e para todas as idades, como caminho para recuperar a fé, e impôs-se fortemente contra o modernismo. Outra importante característica de sua personalidade era a bondade suave e radiante que todos notavam e sentiam na sua presença. 

Pio X não foi apenas um teólogo. Foi um pastor dedicado e, sobretudo, extremamente devoto, que sentia satisfação em definir-se como "um simples pároco do campo". Ficou muito amargurado quando previu a Primeira Guerra Mundial e sentiu a impotência de nada poder fazer para que ela não acontecesse.
Possuindo o dom da cura, ainda em vida intercedeu em vários milagres. Consta dos relatos que as pessoas doentes que tinham contato com ele se curavam. Discorrendo sobre tal fato, ele mesmo explicava como sendo "o poder das chaves de são Pedro". Quando alguém o chamava de "padre santo", ele corrigia sorrindo: "Não se diz santo, mas Sarto", numa alusão ao seu sobrenome de família. 

No dia 20 de agosto de 1914, aos setenta e nove anos, Pio X morreu. O povo, de imediato, passou a venerá-lo como um santo. Mas só em 1954 ele foi oficialmente canonizado.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

São Bernardo de Claraval 20/08/2013



São Bernardo de Claraval
1090-1153

20 de Agosto - São Bernardo de Claraval

Bernardo nasceu na última década do século XI, no ano 1090, em Dijon, França. Era o terceiro dos sete filhos do cavaleiro Tecelim e de sua esposa Alícia. A sua família era cristã, rica, poderosa e nobre. Desde tenra idade, demonstrou uma inteligência aguçada. Tímido, tornou-se um jovem de boa aparência, educado, culto, piedoso e de caráter reto e piedoso. Mas chamava a atenção pela sabedoria, prudência, poder de persuasão e profunda modéstia.

Quando sua mãe morreu, seus irmãos quiseram seguir a carreira militar, enquanto ele preferiu a vida religiosa, ouvindo o chamado de Deus. Na ocasião, todos os familiares foram contra, principalmente seu pai. Porém, com uma determinação poucas vezes vista, além de convencê-los, trouxe consigo: o pai, os irmãos, primos e vários amigos. Ao todo, trinta pessoas seguiram seus passos, sua confiança na fé em Cristo, e ingressaram no Mosteiro da Ordem de Cister, recém-fundada.

A contribuição de Bernardo dentro da ordem foi de tão grande magnitude que ele passou a ser considerado o seu segundo fundador. No seu ingresso, em 1113, eram apenas vinte membros e um mosteiro. Dois anos depois, foi enviado para fundar outro na cidade de Claraval, do qual foi eleito abade, ficando na direção durante trinta e oito anos. Foi um período de abundante florescimento da Ordem, que passou a contar com cento e sessenta e cinco mosteiros. Bernardo sozinho fundou sessenta e oito e, em suas mãos, mais de setecentos religiosos professaram os votos.

Bernardo viveu uma época muito conturbada na Igreja. Muitas vezes teve de deixar a reclusão contemplativa do mosteiro para envolver-se em questões que agitavam a sociedade. Foi pregador, místico, escritor, fundador de mosteiros, abade, conselheiro de papas, reis, bispos e também polemista político e tenaz pacificador. Nada conseguia abater ou afetar sua fé, imprimindo sua marca na história da espiritualidade católica romana.

Ao lado dessas atividades, nesse mesmo período teve uma atividade literária muito expressiva, em quantidade de obras e qualidade de conteúdo. Tornou-se o maior escritor do seu tempo, apesar de sua saúde sempre estar comprometida. Isso porque Bernardo era um religioso de vida muito austera, dormia pouco, jejuava com freqüência e impunha-se severa penitência.

Em 1153, participando de uma missão em Lorena, adoeceu. Percebendo a gravidade do seu estado, pediu para ser conduzido para o seu Mosteiro de Claraval, onde pouco tempo depois morreu, no dia 20 de agosto do mesmo ano. Foi sepultado na igreja do mosteiro, mas teve suas relíquias dispersadas durante a Revolução Francesa. Depois, sua cabeça foi entregue para ser guardada na catedral de Troyes, França.

São Bernardo de Claraval, canonizado em 1174, recebeu, com toda honra e justiça, o título de doutor da Igreja em 1830.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Assunção de nossa Senhora aos Céus15/08/2013


Dogma da Assunção de Nossa Senhora
                                                                                           

              
                           A Assunção da Virgem em  corpo e alma,  após sua  morte preciosíssima é, hoje, um dogma de fé cristã.  Encontra-se contido em nossa página principal (em catecismo) detalhes explicativos sobre os dogmas que, resumidamente podem definir-se como verdades divinas propostas pela Igreja, e que devemos crer incondicionalmente, sob pena de cairmos em heresia.
                          Desta breve exposição se inclui que, nenhum católico poderá negar que a Virgem Mãe de Deus foi elevada ao céu em corpo e alma, após a morte. 
                        O Papa Pio XII , no dia 1o. de novembro de  1950, na Basílica de  São Pedro, dirigiu  a  cerimônia que ficou e ficará para sempre nos anais da Igreja Católica como a  mais solenes da era contemporânea,  o Dogma da Assunção da Virgem Mãe de Deus.  Vejamos a alocução de Sua Santidade firmada nessa cerimônia: 
 “Veneráveis irmãos e  amados filhos e  filhas que vos haveis  congregado em nossa  presença e  todos vós que nos ouvis nesta Santa Roma e  em todos os  lugares do mundo católico. 
 “Emocionados pela proclamação como um dogma de  fé da Assunção ao céu da Santíssima Virgem em corpo e alma, exultando de alegria que inunda os corações de todos os fiéis, agora satisfeitos em seus ardentes desejos, sentimos irresistível necessidade de elevar junto convosco o hino de graças à amada providência de Deus, que quis reservar para vós a alegria deste dia e a nós o conforto de colocar sobre a fronte da mãe de Deus e da nossa mãe  um brilhante diadema que coroa suas singulares prerrogativas.
 “ Por um inescrutável desígnio do destino, aos homens da atual geração tão atormentados e afligidos, perdidos e alucinados, mas também sadiamente em busca de  um grande Deus que foi perdido, abre-se uma parte luminosa dos céus, onde se senta, junto ao filho da justiça, a rainha mãe, Maria.
 “Implorando há longo tempo, finalmente nos chega este dia, o qual por fim, é nosso. A voz dos séculos – deveríamos dizer a  voz da eternidade – é nossa. É a voz que, com a ajuda do Espírito Santo, definiu solenemente  o alto privilégio da celestial Mãe. E vosso é o grito dos séculos. Como se  houvessem  sido sacudidos pelas batidas dos vossos  corações e  pelo balbuciar dos vossos  lábios, as  próprias pedras  desta patriarcal basílica vibram e juntamente com elas os inumeráveis antigos templos levantados em todas as partes em honra de Maria, monumentos de uma só fé e pedestais  terrenos do celestial trono da glória da Rainha do Universo, parecem exultar em pequenas batidas. E neste dia de alegria, desde este pedaço do céu, juntamente com a  evangélica onda de satisfação que se harmoniza com a onda de exultação de  toda a Igreja militante, não pode  deixar de descer sobre as almas uma torrente de  graças e ensinamentos, frutíferos despertadores de renovada santidade.   Por esta razão, para tão altíssima  criatura, levantamos, cheios de fé, os nossos  olhares da terra – nesta nossa época, entre a nossa  geração – e gritamos a todos:  “Levantai os vossos  corações”.
 “As muitas intranqüilas e angustiosas almas, triste legado de  uma idade violenta e  turbulenta, almas oprimidas, porém não resignadas, que já não crêem na bondade da vida e aceitam-na somente  como se fossem obrigadas a aceitá-la, ela lhes abre as  mas altas visões e  as conforta para contemplar que destino e  que obras ela há sublimado, ela , que foi eleita por Deus para ser Mãe do mundo, feita em carne, recebeu docilmente a palavra do Senhor.
 “E vós, que estais  mais  particularmente próximo de nosso coração, vós pobres enfermos, vós  refugiados, vós prisioneiros, vós os perseguidos, vós com os braços em trabalho e o corpo sem abrigo, vós nos sofrimentos de toda índole e de  todas as nações, vós a quem a passagem pela terra só parece dar lágrimas e privações, por mais esforços que se façam ou que se deverão fazer para acudir em vossa ajuda;  levantai vossos olhares para Ela que, antes de  vós, percorreu os caminhos da pobreza, do exílio e  da  dor;  para Ela,  cuja alma foi atravessada pela espada ao pé da cruz e que agora contempla, como olhar firme, desde a  luz eterna, este mundo sem paz, martirizado por desconfianças  recíprocas, pelas divisões, pelos conflitos, pelos  ódios  a tal ponto que se debilitou e se perdeu o sentido do temor em Cristo. Enquanto suplicamos com todo o ardor que a Virgem Maria possa assinalar o retorno do calor, do afeto e da vida aos corações humanos, não nos devemos  cansar de recordar que nada deve prevalecer sobre o fato, sobre a consciência de  sermos  todos filhos da mesma Mãe, laço é de união através do místico Corpo de Cristo, uma nova era e uma nova Mãe dos vivos, que quer conduzir  todos os homens  à verdade e  à graça de seu divino Filho. E agora, oremos com devoção.”

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA ASSUNTA AO CÉU (Composta pelo Papa Pio XII)

“Oh Virgem Imaculada,  Mãe de Deus e  dos  Homens.  Cremos com todo o fervor de nossa fé em Tua triunfante Assunção em alma e corpo ao céu, onde és aclamada rainha por todo o coro dos anjos e por todos os Santos, e a eles nos unimos para louvar e bendizer o Senhor que Te exaltou sobre todas as demais criaturas: para oferecer-se a veemência de nossa devoção e de nosso amor. Sabemos que Teu olhar, que maternalmente acaricia a humilde e sofredora humanidade  de Cristo na terra, se sacia no céu na contemplação da gloriosa humanidade da sabedoria incriada, e que o gozo da tua alma, ao contemplar face a face a adorável Trindade faz com que teu coração palpite com beatífica ternura. E nós, pobres pecadores, nós, a quem o corpo se sobrepõe aos anseios da alma,  nós Te imploramos  que purifique nossos sentidos, de maneira a que aprendamos, cá em baixo, a deleitar-nos em Deus, tão somente em Deus, no encanto das criaturas. Estamos certos de que Teus olhos misericordiosos fixar-se-ão em nossas misérias e em nossas  angústias: em nossas  lutas  e em nossas fraquezas; que Teus lábios sorrirão sobre nossas alegrias e em nossas vitórias;  que Tu ouvirás a voz de Jesus dizer-Te de todos nós, como o fez Ele de seu  amado discípulo: Aqui está teu filho.
 “E nós, que Te invocamos, Mãe nossa, nós Te tomamos como o fez João, como guia forte e  consolo de nossa mortal vida. Nós temos a vivificante certeza de que teus olhos, que choraram na terra, banhada pelo sangue de Jesus, voltar-se-ão uma vez mais para este mundo presa da guerra, de perseguições, de opressão dos justos e dos fracos. E, com meio à escuridão deste vale de lágrimas, nós esperamos de Tua luz celestial e de Tua doce piedade, consolo para as aflições de nossos corações, para atribulações da Igreja e de nosso país.
 “Cremos finalmente que na glória, na qual Tu reinais, vestida de sol e coroada de estrelas Tu és, depois de Jesus, o gozo de todos os  anjos e todos Santos. E nós, que nesta terra passamos como peregrinos, animados pela  fé na futura ressurreição, olhamos para Ti, nossa vida, nossa doçura, nossa esperança. Atraí-nos para Ti com a mansidão de tua voz, para ensinar-nos um dia,  depois de nosso exílio, a Jesus, bendito fruto de Teu seio, ó graciosa, ó piedosa, ó doce Virgem Maria”.    
                                                                       *  *  *  *  *  *  *  *  *