terça-feira, 12 de abril de 2011

V Domingo da Quaresma 10/04/2011


Os textos da Liturgia da Palavra deste domingo da Quaresma, e de modo especial o relato da ressurreição de Lázaro do Evangelho de São João, colocam diante de nós esse face a face dramático entre a vida e a morte, essa experiência tremenda que Jesus assumiu também viver para que nenhum homem pudesse voltar a morrer sozinho. O relato da ressurreição de Lázaro encontra-se a meio do Evangelho, servindo mais ou menos de charneira entre a primeira e a segunda parte do Evangelho, fazendo a ponte através deste acontecimento, o sétimo e último sinal daqueles que manifestam a messianidade de Jesus e se iniciam nas bodas de Caná, para o confronto entre a luz e as trevas, cujo ponto culminante é a vitória da luz na manhã da ressurreição. O relato da ressurreição de Lázaro é também um assumir e uma prefiguração do drama da paixão que Jesus vai sofrer, pois há uma associação intima entre a morte de um e outro e o que se manifesta na ressurreição do primeiro serve para a compreensão da ressurreição do segundo. Neste sentido e face à noticia da doença de Lázaro, do amigo por quem vai chorar, Jesus assume que ela tem um fim muito próprio, pois vai servir para manifestar a glorificação do Filho e por isso, por muito que lhe apeteça partir para estar junto do amigo e de suas irmãs, é necessário dar tempo para que a hora da manifestação possa chegar, essa hora da glorificação necessária. A expressão queixosa de Marta e Maria, de que se Jesus estivesse presente o irmão não teria morrido, é também manifestação desta necessidade de dar tempo ao tempo para que o projecto de Deus e neste caso a missão de Jesus se possa cumprir. Perante a incompreensão dos discípulos, uma vez mais não compreendem o que diz, Jesus vê-se obrigado a declarar-lhes que o sono de que tinha falado era apenas uma metáfora, uma imagem da morte que de facto tinha já acontecido, tinha já obtido a sua vitória sobre Lázaro. Jesus sabe perfeitamente que a morte cumpriu a sua obra, tal como tentará cumprir sobre si mesmo. A dimensão prefigurativa da paixão de Jesus no relato da ressurreição de Lázaro encontra-se também patenteada no diálogo de Jesus com os discípulos sobre os perigos do regresso à Judeia. Eles sabem que a sua vida corre perigo, que está ameaçado de ser morto à pedrada por se ter feito Filho de Deus e por isso tentam dissuadi-lo do regresso a Betânia. Mas Jesus sabe que necessita ir, necessita como diz “ir ter com Lázaro”. Este encontrar-se com Lázaro não diz respeito a um mero encontro físico, pois Lázaro jaz já sepultado, há quatro dias, mas a um encontro no domínio da morte, nessa mesma experiência da morte. Só descendo à morte de Lázaro, à experiência que Lázaro acaba de sofrer é que poderá triunfar, poderá alcançar a glorificação do Filho do Homem. Neste sentido, Jesus é perfeita e totalmente solidário com a humanidade e todas as suas experiências e por isso não escamoteia submeter-se à experiência mais radical, à experiência mais consequente com o pecado. Ao dizer que quer ir ter com Lázaro, Jesus assume a entrega da sua vida, manifesta a vontade de passar pela mesma experiência, bem como a necessidade dessa experiência para poder alcançar a glorificação do Filho do homem e de todos os seus irmãos que nele acreditarem e procurarem ter o seu Espírito. Perante tal decisão, os discípulos, e de modo especial Tomé, prontificam-se a acompanhar Jesus, a dar também a sua vida, “vamos nós também para morrermos com ele”. Mas este ímpeto é apenas fogo de vista e ainda que mais tarde os discípulos venham a dar a vida por Jesus, neste contexto do relato, a disposição de entregar a vida, mais que aos discípulos, deve ser reportada e referida a Jesus, porque ele sim, verdadeiramente, assumiu essa dimensão de partilha da morte. Ao querer ir ter com Lázaro Jesus manifestou a vontade que querer vir ter com todos nós nesta experiência da morte e portanto, a partir desta palavra, nenhum homem poderá jamais considerar ou temer morrer sozinho, porque Jesus está presente. A sua entrega à experiência da morte significa também morrer connosco, fazer a passagem connosco no momento da nossa passagem. E não só está presente, experimentando connosco a morte, como ainda nos diz de braços eternamente abertos “vem para fora”, incentivando-nos a não ter medo, incentivando-nos a confiar, a libertarmo-nos das ligaduras e das faixas que nos prendem e nos tolhem e vedam a visão perfeita, porque também ele já fez a experiência confiando no amor do Pai, porque nos ama, e porque assim como por Lazaro também chora por nós e connosco em cada morte. Pudéssemos nós ter a fé suficientemente forte para acreditar que Jesus está connosco mas sobretudo para não duvidarmos nunca que Ele é a ressurreição e a vida e quem acredita Nele nunca morrerá. Como Marta digamos: “acredito Senhor que tu és o Messias, o Filho de Deus”, mas necessito que fortaleças a minha fé, que faças rolar as pedras que me encerram ainda no túmulo da incredulidade. Fonte: Frei José Carlos Lopes Almeida, OP

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