quarta-feira, 7 de março de 2012

Santa Perpétua e Felicidade 07/03/2012







Da narração do martírio dos santos Mártires de Cartago
(Cap. 18-21: edit. van Beek, Nimega, 1936. pp. 42.46-52) (Sec. III)



Chamados e escolhidos para glória do Senhor



Despontou o dia da vitória dos mártires, e vieram do cárcere até ao anfiteatro, como se fosse para o Céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha o rosto alterado, era de alegria e não de medo.
Perpétua foi a primeira a ser arremessada ao ar pela vaca brava, e caiu de costas no chão. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, aproximou-se, estendeu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Perpétua foi aí acolhida por um certo catecúmeno, chamado Rústico, que permanecia sempre ao seu lado; e como se acordasse do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito) começou a olhar à volta e, para espanto de todos, perguntou: «Quando é que seremos expostas à tal vaca?». Quando lhe disseram que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no seu corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Chamou então para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno e disse-lhes: «Permanecei firmes na fé, amai-vos uns aos outros e não vos perturbeis com os nossos sofrimentos».
Por sua vez, Saturo, noutra porta do anfiteatro, exortava o soldado Pudente com estas palavras: «Até agora, tal como te tinha afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Acredita portanto agora de todo o coração: agora vou avançar de novo para ali e serei abatido com uma única mordedura de leopardo». E imediatamente, já quase no fim do espectáculo, foi lançado a um leopardo, e com um só golpe ficou coberto de tanto sangue que o povo, sem saber o que dizia, dava testemunho do seu segundo baptismo, aclamando: «Foste lavado, estás salvo. Foste lavado, estás salvo!». E na verdade estava salvo quem de tal modo fora lavado.
Saturo disse então ao soldado Pudente: «Adeus. Lembra-te da fé e de mim, e que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem». E pediu-lhe o anel que trazia no dedo, mergulhou-o na ferida e devolveu-lho como uma herança, deixando-lho como penhor e recordação do sangue. Depois, já exânime, prostrou-se com os outros no lugar destinado ao golpe de misericórdia.
Mas o povo reclamava em alta voz que aqueles que iam receber o golpe final fossem levados para o meio do anfiteatro, porque queriam ver com os seus próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas; os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para o sítio onde o povo os queria, depois de terem dado mutuamente o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.
Todos receberam o golpe da espada imóveis e em silêncio: especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir (na visão de Perpétua) e que foi o primeiro a entregar a alma. Até ao último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir em seus ossos a cutilada, e ela própria guiou até à garganta a mão incerta do inexperiente gladiador. Talvez esta mulher, de quem o espírito do mal se temia, não tivesse podido ser morta de outra maneira do que querendo-o ela própria.

Ó mártires, cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e eleitos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Fonte: Liturgia das Horas

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