segunda-feira, 26 de março de 2012

Anunciação do Senhor 25/03/2012







Eis a escrava do Senhor…

Na celebração da Anunciação do Senhor, nove meses antes do Natal, a sagrada liturgia da Igreja traz à nossa memória o momento da Encarnação do Filho de Jesus. Deus pede a cooperação da Mulher para que o Filho, o Verbo Eterno, possa assumir a natureza humana para nossa salvação.
Artistas de todas as épocas se inspiraram nesta passagem de Lucas para suas pinturas, ícones, mosaicos, tapeçarias, peças musicais, etc. Ali aparecem frente a frente o Anjo Gabriel e a Virgem Maria. Ele, em nome de Deus. Ela, em nome da humanidade. Ele, espírito celeste. Ela, filha de Adão.
Gabriel traz uma proposta: ser a mãe do Messias prometido. Maria dá a resposta: “Eis aqui a escrava do Senhor!” Algumas traduções optam por “serva”, mas não é o que está no texto latino de S. Jerônimo [ancilla Domini] nem no grego de São Lucas [doúle kyriou]. A palavra “serva” faz pensar em uma empregadinha doméstica, com avental e dragonas nos ombros, com carteira assinada e direitos trabalhistas. Ora, escrava é outra coisa!
A resposta de Maria de Nazaré tem um sentido existencial que toca o profundo de seu ser. É como se Maria dissesse: “Se você acaba de me revelar qual é o desígnio de Deus a meu respeito, quem sou para ter vontade própria e escolher diferentemente? Abro mão, livremente, de minha vontade para aderir de modo pleno àquilo que o Senhor me diz. Deixo de lado qualquer projeto pessoal, pois Deus me diz o que fazer.”
Este é o alcance da palavra “escrava”: aquela que vive a obediência pronta e incondicional, sem levar em conta possíveis prejuízos pessoais. Não se veja nisto uma forma de humilhação, pois os escravos sempre se orgulharam de servir a senhores distintos e merecedores de honra. E ninguém é mais honrado que o Senhor! O Salmo 123 retrata fielmente a atenção dos escravos, prontos à obediência e ao serviço: “Como os olhos dos escravos para a mão dos seus amos, / e os olhos de uma escrava para a mão de sua dona, / assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus…” (Sl 123 [122],2.) Em geral, os escravos vinham de outros povos, presas de guerra ou adquiridos de mercadores; por isso mesmo, não entendiam o idioma do patrão e deviam prestar atenção às ordens dadas por gestos das mãos e indicação dos dedos. Olhar a mão do dono mostra a utilidade e prontidão do escravo.
Sei que a simples palavra “escravo” provoca alergias. E que muitos preferem um “deus” que lhes preste serviços, qual gênio da lâmpada. Mas não é assim com a Toda Santa: cheia do Espírito, ela sabe que não há maior glória que servir a Deus…



Orai sem cessar: “Meu Deus, quero fazer o que te agrada!” (Sl 40 [39],9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.


Solenidade tranferida para segunda-feira

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