terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Santa Jacinta de Mariscotti





Santa Jacinta de Mariscotti,

Padroeira de Viterbo


Após uma vida frívola e mundana, Jacinta de Mariscotti converteu-se radicalmente, transformando-se numa grande santa dotada dos dons de milagre e de profecia


Clarice de Mariscotti — como se chamava Jacinta antes de entrar em religião — era filha de Marcantonio Mariscotti e Otávia Orsini, condessa de Vignanello, localidade próxima de Viterbo, (na Itália), onde a santa nasceu provavelmente no dia 16 de março de 1585.
De seus pais muito virtuosos, recebeu profunda formação religiosa, correspondendo aos anseios dos progenitores. Entretanto, atingindo a adolescência, Clarice tornou-se vaidosa e mundana, buscando apenas divertir-se. Sua preocupação passou a ser vestidos, adornos, entretenimentos.
Tal situação fez com que o pai se preocupasse muito com a salvação de sua filha. Como remédio, resolveu mandar a vaidosa para o convento, onde estava sua irmã mais velha, que lá era um exemplo de virtude. Clarice obedeceu de má vontade. Enquanto permaneceu no convento, alimentava o desejo de sair dele o mais rapidamente possível para voltar à vida despreocupada e mundana de antes. Insistiu tanto, que o pai acabou cedendo.

O mundo não dá o que promete

Mas no mundo, para onde voltara, não encontrou o que esperava. Os anos corriam, as vaidades passavam, e ela não encontrava quem lhe proporcionasse a felicidade esperada. Nenhum dos julgados “bons partidos” da região dava atenção àquela moça tresloucada. Clarice viu ainda sua irmã mais nova, Hortência, casar-se com o marquês romano Paulo Capizucchi, e ela ficar para trás.
A família insistiu então com ela para que voltasse ao convento, desta vez como freira. A contragosto retornou àquele mesmo em que estava sua irmã, das religiosas da Ordem Terceira Franciscana regular.
Nessa Ordem tomou o nome de Jacinta. Infelizmente ela não deixou o mundo atrás de si, mas o trouxe para a vida religiosa. Julgando as celas das freiras muito pequenas e pobres, mandou construir uma especial para si, de acordo com sua posição social, e ornou-a com luxo principesco, colocando cortinas, tapetes, objetos de ouro e prata, bem como uma mesa de mármore. Tudo isso, que poderia ficar bem num palácio, destoava do ambiente de pobreza próprio daquele convento. Com tédio e má vontade, participava dos atos comuns da casa religiosa.

Voz da Providência, mediante sofrimento

Num gênero de vida mole e enganoso, passou 10 anos, até que foi atingida por grave doença. Então os bons pensamentos da infância voltaram à tona. Considerou o fogo do purgatório e do inferno e tremeu de terror. Começou, aos gritos, a chamar pelo confessor.
Ora, estava passando nessa ocasião pelo convento o Pe. Antônio Biochetti, virtuoso sacerdote, muito enérgico e categórico. Foi ele instado a atender a doente. Mas, entrando naquele quarto luxuoso, mais próprio de um palácio do que de um convento, recusou-se atender a confissão da freira, dizendo que o Paraíso não era feito para os soberbos.
Jacinta, desesperada, chorando amargamente, perguntou-lhe: “Então não há mais salvação para mim?”. “Sim — respondeu o religioso — contanto que deixe esses vãos adornos, essas vestimentas suntuosas, e se torne humilde, piedosa, esqueça o mundo e pense só nas coisas do Céu”.
No dia seguinte, tendo Jacinta trocado sua roupa de seda por um pobre hábito, fez sua confissão geral com tantas lágrimas e gemidos, que manifestavam um verdadeiro arrependimento. Depois foi ao refeitório e aplicou-se forte disciplina em frente às irmãs, pedindo-lhes perdão pelos maus exemplos que lhes havia dado.

A graça da conversão completa

Mas Jacinta ainda não havia rompido com tudo. Restava-lhe deixar o luxuoso quarto, ao qual estava muito apegada. Nova enfermidade — durante a qual viu Santa Catarina de Siena, que lhe deu vários conselhos — fez com que, desta vez, a ruptura com a vida antiga fosse total. Entregou tudo o que possuía à superiora e revestiu-se com a mortalha de uma freira que acabava de morrer. Fez o propósito de não ver mais seus parentes e amigos, a não ser por ordem da superiora, a fim de romper com tudo aquilo que lhe lembrava a antiga vida. Quis ser chamada, desde então, de Jacinta de Santa Maria, e não mais de Mariscotti.
Sua conversão foi dessa vez radical: trocou sua cama por um feixe de lenha, tendo uma pedra como travesseiro. Mortificava-se dia e noite, tomando tão ásperas disciplinas, que o solo de sua cela ficava manchado de sangue. Em memória das chagas do Divino Salvador, fez nos pés, nas mãos e no lado chagas que reabria freqüentemente, e que só deixou cicatrizar por obediência. Prática esta que, numa vocação especial de penitência, pode-se compreender, embora não seja para ser imitada. Às sextas-feiras, em memória da sede que Nosso Senhor sofreu na Paixão, colocava um punhado de sal na boca. Sua alimentação passou a ser pão e água. Durante a Quaresma e o Advento, vivia de verduras e raízes apenas cozidas na água. Após sua conversão, passou a ter uma tão baixa opinião de si mesma, que a tornava um exemplo de humildade. Considerando-se como a pior pecadora, escolheu para patronos santos que tinham ofendido a Deus antes de se converterem, como Santo Agostinho, Santa Maria Egipcíaca e Santa Margarida de Cortona.

Subpriora e Mestra de Noviças

Jacinta procurava toda ocasião para se humilhar. Freqüentemente ia ao refeitório com uma corda ao pescoço, e ajoelhando-se diante de cada freira, beijava-lhe os pés pedindo perdão pelos maus exemplos passados. Fazia os trabalhos mais repugnantes no convento, varria as celas, geralmente de joelhos, e suportava alegremente as injúrias de algumas irmãs que a chamavam de louca e de alucinada. Ela pedia a todas que rezassem por ela. Escreveu a uma religiosa: “Há 14 anos que eu mudei de vida. Durante esse tempo eu rezei algumas vezes quarenta horas seguidas, assisti todos os dias a várias missas, e me encontro ainda longe da perfeição. Quando poderei servir meu Deus como Ele merece? Reze por mim, minha amiga, para que o Senhor me dê ao menos a esperança”.
Apesar de tudo que fazia para ser desprezada, sua virtude brilhava aos olhos da maioria da comunidade, que a escolheu para subpriora e Mestra de Noviças.

Evita naufrágio, converte criminoso


A fama de sua virtude ultrapassou os muros do convento e propagou-se por toda a região. Deus a dotou do dom dos milagres. Certo dia, por exemplo, alguns seus conterrâneos faziam uma viagem em alto mar, quando foram surpreendidos por terrível tormenta. Na iminência de soçobrarem, um deles exclamou: “Ó irmã Jacinta, venha em nosso socorro ou pereceremos”. No mesmo instante os passageiros viram uma freira franciscana de hábito branco, que aplainava as vagas e dirigia com força sobrenatural a embarcação ao porto. Tendo um deles ido depois ao convento para agradecer tamanho benefício, a superiora mandou chamar a Irmã Jacinta: “Foi ela que nos salvou”. A santa fugiu do parlatório para não ser louvada.
Para converter pecadores ela se tornava de uma eloqüência irresistível, que ia direto ao coração dos mais empedernidos. Uma das conversões operadas por ela, que mais ruído ocasionou, foi a de um soldado de fortuna chamado Francisco Pacini, tristemente célebre por sua insolência, crueldade e falta de pudor. A santa havia ouvido falar dele e resolveu convertê-lo. Para isso, fez orações e jejuns especiais durante vários dias. Depois escreveu ao celerado, pedindo-lhe para vir ao convento tratar de assunto da mais alta importância. Ao receber a mensagem, Pacini respondeu com desprezo que havia jurado jamais pôr os pés num convento. Mas Jacinta não se deu por vencida. Pediu a um pecador convertido, que fora amigo de Pacini, que o fosse procurar e tentasse convencê-lo a ir ao convento. Como Pacini se recusasse peremptoriamente, o outro, com fino senso psicológico, lhe disse: “Como você está mudado! Não ousa nem mesmo enfrentar o olhar de uma mulher!”. Temendo ser ridicularizado como covarde, o bandido resolveu ir ao convento, prometendo fazer a ousada freira arrepender-se de sua temeridade. Mas não contava com a graça de Deus. Apenas pôs os pés no parlatório e viu aquela pobre freira, começou a tremer. E à medida que ela lhe falava do horror de seus crimes e do castigo que mereciam de Deus, ele foi se transformando, caiu de joelhos e prometeu confessar-se. O que fez no domingo seguinte, que era o da Paixão, com os pés descalços e uma corda no pescoço, pondo-se bem no meio da Igreja e pedindo perdão a todos por seus crimes e escândalos. Mais tarde revestiu o hábito de peregrino e consagrou sua vida a Deus.

Zelo reformador e ardorosa caridade

Do mesmo modo, ela reformou muitos conventos com cartas escritas às superioras relaxadas, admoestando-as dos castigos que as ameaçavam. Foi por sugestão sua que a Duquesa de Farnese e de Savella fundou dois mosteiros de clarissas, um em Farnese, outro em Roma.
A caridade de Jacinta para com os pobres era proverbial. Não tendo voto de clausura, ela saía para visitá-los em seus próprios tugúrios, levando-lhes sempre o auxílio espiritual, além do material. Seu grande apreço pela nobreza se patenteia na assistência que proporcionava especialmente aos nobres empobrecidos e envergonhados.
Ela tinha grande devoção à Santíssima Virgem e a São Miguel Arcanjo, que a assistiu várias vezes com seu poder contra os embustes do demônio. Venerava especialmente o santo sacrifício da Missa, vendo nele, como de fato é, a renovação incruenta do sacrifício do Calvário.

Além do dom dos milagres, foi ela dotada também do de profecia.

Santa Jacinta de Mariscotti entregou sua alma a Deus no dia 30 de janeiro de 1640, sendo canonizada em 1807 pelo Papa Pio VII.



Fontes de referência:

– Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo II, pp. 348 a 356.

– Manuel de Castro, O.F.M., Santa Jacinta de Mariscotti, in Santoral Franciscano.





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