Aprendestes que Cristo era o Verbo, a Palavra de Deus, unida a uma alma humana e a um corpo humano. [...] Aqui, os discípulos julgaram ver um espírito; não acreditavam que o Senhor tivesse um corpo verdadeiro. Mas, como o Senhor conhecia o perigo de tais pensamentos, apressou-Se a arrancá-los dos seus corações [...]: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as Minhas mãos e os Meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-Me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» E tu, a esses mesmos pensamentos loucos, contrapõe, com firmeza, a regra da fé que recebeste. [...] Cristo é verdadeiramente o Verbo, o Filho único, igual ao Pai, unido a uma alma verdadeiramente humana e a um corpo livre de todo o pecado. Foi esse corpo que morreu, esse corpo que ressuscitou, esse corpo que foi pregado na cruz, esse corpo que foi deposto no túmulo, esse corpo que está sentado nos céus. Nosso Senhor queria persuadir os discípulos de que Aquilo que viam era verdadeiramente osso e carne. [...] Porque me quis Ele convencer desta verdade? Porque sabia até que ponto me é benéfico acreditar e quanto tenho a perder se não acreditar. Acreditai, pois, vós também: Ele é o Esposo!
Este mesmo Corpo, nos alimenta e dá Vida.
Evangelho Cotidiano
A celebração da Eucaristia
A ninguém é permitido participar da Eucaristia, a não ser àquele que, admitindo como
verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo batismo para a remissão dos
pecados e a regeneração, leve uma vida como Cristo ensinou.
Pois não é pão ou vinho comum o que recebemos. Com efeito, do mesmo modo como Jesus
Cristo, nosso salvador, se fez homem pela Palavra de Deus e assumiu a carne e o sangue para a
nossa salvação, também nos foi ensinado que o alimento sobre o qual foi pronunciada a ação de
graças com as mesmas palavras de Cristo e, depois de transformado, nutre nossa carne e nosso
sangue, é a própria carne e o sangue de Jesus que se encarnou.
Os apóstolos, em suas memórias que chamamos evangelhos, nos transmitiram a recomendação
que Jesus lhes fizera. Tendo ele tomado o pão e dado graças, disse: Fazei isto em memória de
mim. Isto é o meu corpo (Lc 22,19; Mc 14,22); e tomando igualmente o cálice e dando graças,
disse: Este é o meu sangue (Mc 14,24), e os deu somente a eles. Desde então, nunca mais
deixamos de recordar estas coisas entre nós. Como que possuímos, socorremos a todos os
necessitados e estamos sempre unidos uns aos outros. E por todas as coisas com que nos
alimentamos, bendizemos o Criador do universo, por seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito
Santo. No chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou
nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que
o tempo permite.
Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à
imitação de tão sublimes ensinamentos.
Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao
acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água.Então o que preside eleva ao céu, com
todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre
os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também
enviados aos ausentes por meio dos diáconos.
Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à
disposição do que preside. Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer
outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de
viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados.
Reunimo-nos todos no dia do Sol, não só porque foi o primeiro dia em que Deus,
transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus
Cristo, nosso salvador, ressuscitou dos mortos. Crucificaram-no na véspera do dia de Saturno; e
no dia seguinte a este, ou seja, no dia do Sol,aparecendo aos seus apóstolos e discípulos,
ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração.
Da Primeira Apologia a favor dos cristãos, de São Justino, mártir
(Cap.66-67: PG 6,427-431) (Séc.I) Liturgia das Horas
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