Feliz Páscoa
O acontecimento maior da nossa fé tem seu eixo na liturgia da Semana Santa, ocasião em que os cristãos meditam e entram em cheio na paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, manifestada no despojamento e aniquilamento do Servo de Javé, rei humilde e obediente (cf. Is 52, 13-53), até a morte e morte na cruz. O nosso Deus é essencialmente bom e terno, passa da morte à vida, afirmando-nos que a tristeza e desânimo são coisas do passado. A esperança e o otimismo, proclamada pelo Papa Francisco, neste domingo de ramos, 24/3/2013, quer contagiar nossa existência, na certeza de que Jesus venceu a morte e quis se estabelecer para sempre no meio da sua gente querida. “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6). Páscoa é a vida indo ao encontro da vida e se distanciando da morte, evidenciada na vitória e no milagre da vida a partir do duro contexto da morte. A Igreja sempre dar uma grande importância à simbologia do fogo, na luz do Círio Pascal, o fogo novo, da luz que nasce das trevas, sinal do Senhor ressuscitado, da vitória diante da angústia da morte. O fogo como sinal da presença de Deus no decorrer da história. A luz é a própria vida, pela presença do Cristo Jesus, trazendo vida à criatura humana, no “duelo forte e mais forte, na vida que vence a morte”. Não podemos jamais esquecer a água como símbolo da vida, porque nela as pessoas renascem no batismo para a vida do mundo (cf. Jo 3, 1-7), levando-nos a compreender que a vida é duradoura e que participamos do ponto culminante, não da vida de um herói, mas fomos mergulhados na vida do próprio filho de Deus, razão pela qual vivemos, constantemente convidados a sonhar com a glória futura, com o feliz “dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. Páscoa é a vitória da vida sobre a morte, trazendo a esperança e a grande oportunidade para a criatura humana assumir uma vida nova, uma vida diferente. Na Igreja, “memória”, “presença” e “profecia” são um trinômio que só se compreende a partir da Páscoa, tendo o Senhor ressuscitado como o centro, como aquele que nos encoraja e enche de esperança. “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo” (Miguel Cervantes). A Páscoa deve ser um processo que se realiza e que acontece, através do compromisso ético, na ação pastoral, no trabalho, no convívio social e nas mais diferenciadas atividades das pessoas que têm fé e que acreditam no futuro da humanidade e que “O Cristo, Nossa Páscoa”, com toda sua força, renova e deixa repleta de graça a face da terra. A liturgia da Páscoa (Vigília Pascal), no dizer de Santo Agostinho, é a “Mãe de todas as celebrações” que, com seus ritos antigos, com toda sua beleza, sua profundidade poética e, ao mesmo tempo profética, deve nos estimular e desafiar. Ficar só no rito, seria muito triste ao coração de Deus. A Páscoa deve ser um grito, um clamor, um anúncio e a proclamação, numa só fé, da busca de um mundo novo que tem seu início na esperança e no amor de Deus, que quer a pessoa humana realizada e de bem com a vida. Quando é que teremos uma Igreja verdadeiramente pascal? Somos desafiados a construir essa Igreja, pela força e graça, que nasce da Páscoa.
Padre Geovane Saraiva, Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e vice-presidente da Previdência Sacerdotal. Pároco de Santo Afonso – geovanesaraiva@gmail.com
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