"Viram, então, aparecer umas línguas de fogo e todos ficaram cheios de Espírito Santo"At 2, 3-4
1. Por este fogo, ponho eu as minhas mãos! O verdadeiro fogo, o Espírito Santo, foi trazido à terra, por Cristo. Ele não roubou nem arrebatou, dos deuses, esse fogo, como o fez Prometeu, segundo o mito grego, mas fez-se mediador do "dom de Deus", obtendo-o, para nós, com o maior gesto de amor da história: a sua morte na cruz, pela qual entregou ao Pai e nos deu o seu Espírito!
2. Outros, ao contrário, pretenderam tomar o fogo em suas próprias mãos. Apropriando-se das energias do cosmos — do seu "fogo" — o ser humano parece hoje afirmar-se como deus e desejar transformar o mundo, excluindo, pondo de lado ou até rejeitando, o Criador do universo! Nas mãos de um homem assim, o "fogo" e as suas enormes potencialidades tornam-se perigosos: podem voltar-se contra a vida e contra a própria humanidade, como o demonstra a história. Como perene admoestação, permanecem as tragédias de Hiroxima e Nagasáqui, onde a energia atómica, utilizada para finalidades bélicas, semeou morte em proporções inauditas!
3. Todavia, a Sagrada Escritura revela-nos que a energia capaz de mover o mundo não é uma força anónima e cega, mas a ação do "Espírito de Deus que se movia sobre a superfície das águas" (Gn 1, 2) no início da criação. E Jesus Cristo "trouxe à terra" não a força vital, que já habitava nela, mas o Espírito Santo, ou seja, o Amor de Deus que "renova a face da terra", purificando-a do mal e libertando-a do domínio da morte (cf. Sl 103 [104], 29-30). Este "fogo" puro, essencial e pessoal, o fogo do amor, desceu sobre os Apóstolos, reunidos em oração, com Maria no Cenáculo. Juntamente com os fiéis das diversas comunidades, os Apóstolos levaram esta chama divina até aos extremos confins da Terra; abriram assim um caminho para a humanidade, uma senda luminosa, e colaboraram com Deus, que com o seu fogo quer renovar a face da terra!
4. Como é diferente este fogo, daquele das guerras e das bombas! Como é diverso o incêndio de Cristo, propagado pela Igreja, se comparado aos que foram acesos pelos ditadores de todas as épocas, que atrás de si só deixaram terra queimada. Ao contrário, o fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, é aquele da sarça que ardia sem se consumir (cf. Êx 3, 2). É uma chama que arde, mas não destrói! Arde, mas não queima; só ela tem o poder de consumir as escórias do nosso egoísmo. Aliás, ardendo no coração do homem, através da cruz dos seus sofrimentos e da purificação dos sentidos, Ele faz vir ao de cima a sua parte melhor e mais verdadeira, faz sobressair a sua forma interior, a beleza da sua vocação à verdade e ao amor! A dor causada por tal purificação é verdadeira “prova de fogo”, necessária à nossa transformação. Sim: só o fogo deste amor divino, verdadeiramente nos forma e enforma, reforma e transforma, à imagem de Deus. Só o amor nos redime!
5. Vale então a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo, que sobre nós desce, pela imposição das mãos! Queiramos todos ser ateados por esta chama viva de Deus! Rezemos, por isso, com persistente ousadia, no secreto murmúrio dos nossos corações: Vinde, Espírito Santo! Ateai em nós o fogo do vosso amor!
Fonte: Parte de uma Homilia
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